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AS CRIANÇAS e o “AQUI E AGORA” – Aprender a esperar

Quarta-feira é dia do meu rodízio. Saio de casa muito cedo. Meu caçula (7 anos) costuma acordar mais cedo nesses dias para se despedir. Hoje ele me presenteou com uma de suas pérolas.

Ao me ver sair por volta das 6:30 da manhã, meu caçula me pergunta:

– “Você vai assim cedo por causa do rodízio né?! Você não tem paciente assim cedo, tem?”

Eu: – “Tenho sim, a partir das 7:30.”.

Meu filho me pergunta então com um ar de curiosidade e indignação:

– “Mas tem gente que tem problema assim tão cedo?”

Me deliciei com esse comentário até chegar no consultório. Ao mesmo tempo pensei no desafio (que adiei para o meu retorno pós-trabalho) de explicar para ele que a psicoterapia é um processo e não um “pronto-socorro de problemas”. Para que ele entenda, precisa ainda compreender muitos outros aspectos, como pensar a longo prazo, saber esperar, lidar com a angústia e ansiedade de resolver tudo na hora, superar o imediatismo da primeira infância.

Adoro desafios e vou encarar esse com o maior prazer. De qualquer forma fiquei intrigada com o fato de que, mesmo que nós adultos sejamos também cada vez mais imediatistas, muitas vezes nos esquecemos que esperar e pensar em termos de “processo” e não soluções pontuais é algo aprendido.

Quantas vezes ficamos irritados ou mesmo bravos quando nossos filhos perguntam ou pedem 50 vezes a mesma coisa porque querem uma resposta na hora?

As crianças nascem imediatistas, não sabem esperar. Vivem o que chamamos na psicologia de “processo primário”: se não tiver minha necessidade ou desejo satisfeito na hora, acho que vou morrer!”. Essa seria a legenda para a maioria dos choros de bebê e birras de criança. A birra é a tentativa de manter o imediatismo e as vontades satisfeitas.

Somos nós, adultos maduros e responsáveis, que ensinaremos a eles que é possível esperar, que podemos fazer um pouco por vez. Conforme as crianças vão crescendo e desenvolvendo mais capacidades cognitivas, vão aprendendo a pensar no depois e a planejar (sem aquela ansiedade que enlouquece os adultos: “É hoje? É hoje? É hoje?” ou “Tá chegando? Tá chegando? Tá chegando?”).

A capacidade de esperar requer um certo desenvolvimento cognitivo mas é uma aprendizado emocional. Muitas vezes esse aprendizado não acontece naturalmente. Para que aprendam precisarão ser frustradas, terão que esperar e  ver que sobrevivem.

Dizer NÃO para a criança é fundamental para que avance em suas capacidades e recursos, para que se desenvolva de forma saudável.

Vale lembrar que mais contam nossas atitudes do que o discurso. Não podemos ensinar aos nossos filhos a esperar, planejar, cultivar bem para depois colher se não conseguimos fazer isso em nosso dia-a-dia.

O quanto somos capazes de esperar?

Pouco, acredito eu. Mas se pensarmos que isso terá um grande peso para a educação e para o desenvolvimento dos nossos filhos, quem sabe possamos aprender também, não é mesmo? Antes tarde do que nunca…

É esperar pra ver que resultado teremos!